terça-feira, 23 de agosto de 2011

não vires as costas.

«Não tenhas medo, não grites nem fujas. Eles são apenas um obstáculo que, desnecessariamente, vem enfrentar o nosso caminho» - dizia ele.
Então eu abri os olhos sem medo de ver a claridade do mundo cá fora. Quando me deparei com a mudança, já o mundo se tinha tornado diferente.
Eu tivera fechado os olhos perante tantos problemas e discussões. Eu tivera desistido de ver o sol e preferia, diariamente, viver na escuridão.
Quando ele proclamava aquelas palavras de consolo, eu mantinha o medo em mim e consequentemente não respondia. Os meus dias eram cheios dele, via-o em todo o lado mesmo de olhos fechados. No vazio dos meus olhos era isso que eu encontrava, o tal menino que eu tivera visto na ultima vez que os abri.
Mas o mundo a que eu estava habituada, teria sofrido uma alteração enorme. De tal maneira que já não reconhecesse sequer o sitio onde me encontrava.
Quando abri os olhos, depois de tanto tempo de angustias e medos, eu vi que ele tivera cumprido o que prometera muito antes e os fechar.
«mesmo que tenhas medo, eu estarei do teu lado, para que tu saibas que é aqui o meu lugar. Contigo e ao teu lado é como me sinto bem» - teria sido o que ele dissera.
Percebi, então, que a história e amor que eu idolatrava durante tantos anos, teria sido apenas uma aprendizagem para que a(s) proximas não fossem um fracasso.
Após começar a reconhecer o mundo, eu vi que os olhos dele mostravam uma pessoa triste. Aos promeiros tempos recusei-me a perguntar o que se passava, mas dias atrás de dias, eu não contive a pergunta:
«que se passa? sinto-te triste e distante»
Ele, então, afastou-se e deitando-se na cama perguntou-me amedrontado:
«se eu fechasse os olhos, também tu ficarias comigo, dias afim, sem medo de nunca mais os veres abrir ? também tu me contarias como foi amar-me em silencio, como foi amar-me sem poder-me tocar? Se calhar tu não sabes, mas estes foram os tempos mais dificeis da minha vida. Também eu me abstrai do mundo e concentrei-me a juntar as peças ao puzzel.
Não percebo, por muito que tente, o porquê da tua insistencia em não olhar o mundo. Sempre juramos que iriamos ser fortes independentemente dos obstaculos que nos aparecessem, ou não, pela frente. Ao primeiro obstaculo tu ages por impulso, e tendes a fechar os olhos e a deixar-me, também a mim, numa escuridão imensa. Parte de mim, neste tempo morreu sabes? E a maneira de ressuscitar era tão simples que tu, quando inesperadamente abriste os olhos, nem te preocupaste em faze-la. Eu sou o teu namorado, aquele a quem chamas ou chamavas de homem da tua vida. Neste momento estou desfortalecido e o meu coração murchou. Achas que algo me pode fazer reviver? Continuas a achar que agiste correctamente e que a maneira mais facil de resolver os problemas é fugindo deles? Então deixa-me que te diga, que por mais que te ame, tu estás errada. Tão errada como achares que 1+1 são 3. Agora percebes o porquê de eu andar realmente triste ? Porque não entendo como foste capaz de, com os teus medos, destruir tudo o que tinhamos contruido. » - num virar das costas ele grita-me acrescentando «ainda assim, mesmo com esta ausencia de ti, eu continuo a amar-te» e desoladamente chora, com a cabeça na almofada deitado na cama.
Aí eu realmente percebi que na parte em que eu mais precisei ele manteve-se do meu lado. Que quando me faltaram os dois olhos ele emprestou-me os dois dele, sem medo de ficar ás escuras. Percebi que ele por mim fazia de tudo e que eu, no momento em que ele estava mais magoado, não estive lá. Mas hoje, quando abri os olhos eu percebi.
O erro já está feito, e contudo não volta atrás, mas pode ser emendado.
Eu deitei-me ao lado dele, e também eu lavada em lágrimas disse-lhe de uma maneira sincera:
« desculpa, eu sei que tens razão e que errei por tudo que fiz ate hoje. Sei também que nada vai mudar a dor que tens em ti e que, sem querer, fui incorrecta ao ponto de me tornar cobarde e fugir dos meus problemas. Mas as nossass discussoes atormentavam-me. Eu só queria que me provasses que esse amor, que tanto dizias eterno, era realmente meu, era realmente nosso». Deitei-me portanto a chorar e repeti «desculpa e obrigada por teres esperado por mim».
Nesse momento não obtive resposta e também ele teria entrado num momento de escuridão. Ele fechara os olhos e faria, para mim, o mesmo que fiz com ele.
Passou dias e dias, em que nem uma palavra dele ouvia. Pensei, vezes sem conta em virar-lhe as costas e por um fim a todo este mundo escuro e silencioso, mas acobardei-me. Não era capaz de partir sem ele.
Todos os dias eu lhe escrevia uma palavra. Todos os dias eu lhe lia o que escrevia. E ele não tinha, nunca teve uma reacção que me desse.
Quando, cansada, escrevi a palavra « desisto » e virei as costas, ao fechar a porta ouvi ele a falar. Voltei a correr, e ele já não mais respirava.
Percebi que tinha sido ali , o fim daquele meu grande amor.
Quando, inconsolavel, fui aos cadernos dele, vi que todos os dias também ele escrevia. No tempo em que estive na escuridão, ele ganhou uma doença na qual a cura não teria sido encontrada. Quando ele entrou, de igual modo, no seu mundo escuro, era apenas uma despedida da vida, de mim.
No caderno, onde ele escrevera dias sem fim, tinha varias palavras. As ultimas eram as que mais me costava ler. Ele escrevera, tão sentimentalmente:
« estive aqui, por tempo indeterminado. Quando mais precisei negaste-me ajuda. Sabia que não ias suportar o meu silencio e que irias partir. A ti, minha eterna menina, te digo um ultimo e eterno "AMO-TE". Agora vive, deixa a escuridão e sê feliz. Perdeste tempo demais com os teus medos para perceber que no amor, tens que saber confiar. Até logo, minha amada.»
Já passaram anos desde que "o meu menino" partiu. Onde estás tu ?
Todos os dias te ponho uma rosa no teu jazigo e te pronuncio palavras das quais tu me pronunciaras. Será esta a tua vingança ?
Se foi, meu amor, peço-te perdão. Porque hoje estou a sentir na pele, tudo o que um dia te fiz passar.
Até sempre, meu grande amor, ficarei eternamente aqui, do teu lado, ainda que esta ausencia de ti predomine na imensidão deste mundo.
Fictício.

4 comentários:

  1. pois não, o nome q tenho é Sofia Borges :)
    acho-te mesmo bonita (;

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  2. uau, adoro o teu blog. este texto arrepiou-me toda bárbara!
    p.s já sigo o teu blog :)

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  3. muito obrigada bárbara.
    já agora este post está mesmo lindo ;)

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